Vladimir Putin quer fim "rápido" de ofensiva rebelde na Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Rebeldes islamitas sírios em dezembro de 2014 Mahmoud Hassano - Reuters

Num telefonema esta terça-feira com o seu homólogo da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, o presidente russo sublinhou ter o máximo interesse num fim "rápido" ao avanço de rebeldes e islamitas radicais nas províncias de Alepo, de Idlib e de Hama, na Síria.

"Vladimir Putin sublinhou a necessidade de pôr fim rapidamente à agressão terrorista de grupos radicais contra o Estado sírio e de apoiar plenamente os esforços das autoridades legítimas para restaurar a estabilidade e a ordem constitucional", afirmou o Kremlin em comunicado de imprensa. 

Os dois dirigentes continuarão os contactos, para "procurar medidas que visem desarmar a crise", acrescentou, especificando que Putin e Erdogan "destacaram a importância crucial de uma estreita coordenação entre a Rússia, a Turquia e o Irão para normalizar a situação na Síria". Rússia e Irão apoiam o regime do presidente sírio, Bashar al Assad, um xiita alauíta. A Turquia apoia parte das forças rebeldes, mas interessa-lhe estabilidade de forma a controlar a sua fronteira sul e as forças curdas sírias.

Conter os islamitas é uma prioridade.

Esta terça-feira, pela primeira vez, o Irão assumiu a possibilidade de enviar tropas para deter o avanço dos rebeldes. Espera apenas um pedido sírio, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araqchi, a um jornal do Catar.

"Se o Governo sírio nos pedir para enviar forças para a Síria, nós iremos considerar o pedido", afirmou Araqchi, dando um passo além de anteriores promessas de "apoio total necessário" ao seu aliado contra os islamitas, que parecem imparáveis.
Avanço rebelde
Esta tarde, as forças anti-regime aproximaram-se da cidade de Hama, defendida pelo exército sírio com apoio aéreo russo.

A cidade, a quarta maior do país, ocupa uma posição estratégica ao centro, entre a maior cidade a norte, Alepo, e a capital, Damasco.

O seu domínio seria uma segunda vitória significativa para o grupo islamita radical Hayat Tahrir al-Cham  [ex-Frente al Nusra ou Estado Islâmico na Síria], que lidera a ofensiva iniciada a 27 de novembro passado e a qual lhe permitiu assumir o controlo parcial de Alepo. Durante a manhã de terça-feira, um fotógrafo da Agência France Press viu dezenas de viaturas blindadas e veículos do exército regular abandonados ao longo da estrada para Hama, num sinal de cedência perante o avanço rebelde.


Estes confrontos são os primeiros de grande magnitude desde o início da guerra iniciada em 2011, durante a Primavera Árabe, para derrubar Assad. 

Nos anos recentes, os cessar-fogo obtidos entre os beligerantes, apoiados por diferentes potências regionais e internacionais com interesses divergentes, mantiveram-se sem grandes hostilidades.

Damasco afirma que a guerra se reacendeu por influência externa, dos Estados Unidos e de Israel, num conflito por procuração contra o Irão e a Rússia. Os islamitas acusam o regime sírio de estar a preparar uma grande ofensiva para os erradicar.
Riscos para Moscovo e Teerão
Impedir a queda do regime sírio convém a Teerão, que mantém em Damasco conselheiros militares. Em troca, o Irão transporta livremente armamento e apoio logístico através de território sírio, para grupos anti-israelitas, como o Hezbollah, no Líbano, ou o Hamas, na Faixa de Gaza. 

O grupo xiita libanês tem igualmente combatentes na Síria, assim como outras milícias xiitas próximas do Irão, que atacam regularmente Israel. Perder esta vantagem seria um duro golpe nas pretensões do regime iraniano dos ayatolahs, em destruir Israel.

À Rússia, que intervém militarmente na Síria desde 2015, interessa preservar o regime de Assad para manter a sua base naval de Tartus, perto de Latakia, crucial para os interesses do Kremlin na região, sobretudo para operações no Mediterrâneo em caso de confronto com a NATO.

A base naval poderá tornar-se contudo alvo dos rebeldes, o que já terá levado Moscovo a retirar dali, por precaução, os seus cinco navios e um submarino, ali estacionados. Pelo menos um dos navios, o Yelnya, foi visto a deixar Tartus na manhã de 2 de dezembro, de acordo com a revista Naval News.
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